Estamos publicando o gabarito parcialmente.
Fundamental II
terça-feira, 31 de agosto de 2010
quarta-feira, 18 de agosto de 2010
Orfeu e Eurídice - DVD Recomendado
A ópera O Orfeu e & Eurídice foi escrita por Gluck em 1762. Colaborando com o compositor alemão, trabalharam dois outros compositores italianos, que moravam em Viena, e cujos trabalhos originais também eram muito requisitados. O cultíssimo Ranieri de Calzabigi foi incentivado a trabalhar com Gluck pelo conde Giacomo Durazzo, diretor geral de todas as apresentações feitas na corte imperial de Hapsburgo, e pelo bailarino Gasparo Angiolini, cujo conceito de dança era baseado na "expressão da verdade". Em 1761, com a colaboração dos três, o balé de "Don Juan Ou Le Festin De Pierre" foi criado. A história de Orfeu e Eurídice é linear e se desenvolve em apenas algumas cenas, e com três personagens, os dois amantes e o Amor. O mito grego de Orfeu e Eurídice é uma das mais famosas histórias de amor de todos os tempos, em que o herói desce ao inferno para recuperar sua amada morta. O enredo foi tema de inúmeros filmes e peças teatrais, além desta ópera. Duas adaptações para o cinema são particularmente importantes para o público brasileiro:"Orfeu Negro", clássico de Marcel Camus de 1959, que ajudou a divulgar o samba e a bossa nova internacionalmente; e "Orfeu ", de Cacá Diegues, também adaptado da peça "Orfeu da Conceição ", de Vinícius de Moraes, que traz o mito para o Rio de Janeiro atual. Gluck compôs mais de 40 óperas, e inovou o estilo com sua visão de que a música deve estar a serviço da verdade dramática do texto. Em colaboração com o libretista Calzabigi, defendeu um novo conceito de ópera, reduzindo o bel canto exibicionista e privilegiando a continuidade da ação.
Procedência: Nacional
Estúdio: ST2 Video
Tempo: 101
Cor: Colorido
Ano de Lançamento: 2003
Recomendação: livre
Procedência: Nacional
Estúdio: ST2 Video
Tempo: 101
Cor: Colorido
Ano de Lançamento: 2003
Recomendação: livre
Orfeu e Eurídice - Mitos inspiram arte
Valéria Peixoto de Alencar*
Um dos mitos mais populares é o de Orfeu. Ele teria sido o mais talentoso dentre todos os músicos. Orfeu era filho da musa Calíope e, segundo alguns, do deus Apolo, que presenteou o filho com uma lira. Quando Orfeu a tocava, os pássaros paravam para escutar, os animais selvagens perdiam o medo e as árvores se curvavam para pegar os sons que o vento trazia.Orfeu se apaixonou pela bela Eurídice e se casaram. Ela era tão bonita que despertou o interesse de outro homem, Aristeu. Depois de recusar Aristeu, este passa, contudo, a persegui-la. Durante a fuga, Eurídice tropeça em uma serpente. O animal pica Eurídice - e, sob o efeito do veneno, a jovem morre. Desesperado e sofrendo, Orfeu foi até o mundo dos mortos com sua lira para resgatar Eurídice. A canção emocionada que entoa convence o barqueiro Caronte a levá-lo e, em seguida, faz adormecer Cérbero, o cão de três cabeças que vigia a entrada do mundo inferior.
Quando Orfeu chega perante Hades, o deus do submundo fica muito irritado ao ver que um vivo conseguira penetrar no mundo dos mortos, mas a música de Orfeu o comove. Perséfone, que estava com Hades, o convence, então, a atender ao pedido do músico.Hades concorda, mas coloca uma condição: Eurídice pode sair seguindo Orfeu, mas ele só deve olhar para ela novamente quando estiverem à luz do sol.
Orfeu parte, então, pela trilha íngreme que leva para fora do mundo inferior, tocando músicas de alegria e celebração, a fim de guiar a sombra de Eurídice de volta à vida. Ele não olha nenhuma vez para trás, até atingir a luz do sol. Mas, então, vira-se, procurando se certificar de que Eurídice o está seguindo. Por um momento ele a vê, perto da saída do túnel escuro, perto da vida outra vez. Mas, enquanto ele olha, ela se torna de novo um fantasma, seu grito final de amor e pena não mais do que um suspiro na brisa que sai do mundo dos mortos. Ele a perde para sempre.
A arte interpreta o mitoPor que Orfeu olhou para trás? Por que não esperou só mais um pouco? Curiosidade? Desconfiança? Medo? Amor?A história de amor de Orfeu e Eurídice inspirou artistas ao longo do tempo. Poetas, pintores e escultores tentaram representar uma das histórias de amor mais antigas e comoventes da cultura ocidental, cada um de acordo com o estilo de sua época.
A arte interpreta o mitoPor que Orfeu olhou para trás? Por que não esperou só mais um pouco? Curiosidade? Desconfiança? Medo? Amor?A história de amor de Orfeu e Eurídice inspirou artistas ao longo do tempo. Poetas, pintores e escultores tentaram representar uma das histórias de amor mais antigas e comoventes da cultura ocidental, cada um de acordo com o estilo de sua época.
No Brasil, o poeta Vinícius de Morais escreveu a peça Orfeu da Conceição, que foi premiada em 1954, no concurso de teatro do 4º Centenário de São Paulo, e que serviu de inspiração para o filme Orfeu, de Cacá Diegues, em 1999.
Dicas
Leia também o texto Mito e arte - Representações de Deméter e Perséfone. O Museu de Arte de São Paulo (MASP) tem a proposta de apresentar sua coleção sob novos conceitos. Dentre eles, A ARTE DO MITO.
*Valéria Peixoto de Alencar é historiadora formada pela USP e cursa o mestrado em Artes no Instituto de Artes da Unesp. É uma das autoras do livro Arte-educação: experiências, questões e possibilidades (Editora Expressão e Arte).
Leia também o texto Mito e arte - Representações de Deméter e Perséfone. O Museu de Arte de São Paulo (MASP) tem a proposta de apresentar sua coleção sob novos conceitos. Dentre eles, A ARTE DO MITO.
*Valéria Peixoto de Alencar é historiadora formada pela USP e cursa o mestrado em Artes no Instituto de Artes da Unesp. É uma das autoras do livro Arte-educação: experiências, questões e possibilidades (Editora Expressão e Arte).
Orfeu e Eurídice
Orfeu, filho de Apolo e da ninfa Calíope, recebeu de seu pai uma lira como presente, e aprendeu a tocá-la com tal perfeição que nada podia resistir ao encanto de sua música. Não somente os seus semelhantes, mas também os animais abrandavam-se aos seus acordes e reuniam-se em torno dele, em transe, esquecendo sua ferocidade. As próprias árvores eram sensíveis ao som maravilhoso, e até as rochas perdiam algo de sua dureza, amaciadas pelas notas saídas do instrumento.
Himeneu, o deus dos casamentos, foi convocado para abençoar com sua presença a união de Orfeu e Eurídice, mas embora tivesse comparecido, não levou augúrios favoráveis. Sua própria tocha fumegou durante a cerimônia, fazendo lacrimejar os olhos dos noivos. Confirmando tais prognósticos, Eurídice, pouco depois do casamento, passeava com as ninfas suas companheiras quando foi vista pelo pastor Aristeu, que fascinado por sua beleza, tentou conquistá-la. Ela fugiu, e na fuga, ao pisar em uma cobra, foi mordida no pé e morreu. Durante dias Orfeu, inconformado, clamou o seu pesar para deuses e homens, mas como nada conseguiu, resolveu procurar a esposa na região dos mortos. Desceu ao reino das sombras, passou por multidões de fantasmas e apresentou-se diante de Plutão e Prosérpina, onde cantou acompanhado pela lira:
“Ó, divindades do mundo inferior, para o qual todos nós que vivemos teremos que vir um dia, escutai as minhas palavras, pois elas são verdadeiras. Não venho para espionar os segredos do Tártaro, nem para tentar experimentar minha força contra o cão de três cabeças que guarda a entrada. Venho à procura de minha esposa, a cuja mocidade o dente de uma venenosa víbora pôs um fim prematuro.O Amor aqui me trouxe, o Amor, um deus-todo-poderoso que mora entre nós, na Terra, e também aqui, se as velhas tradições dizem a verdade. Imploro-vos: uni de novo os fios da vida de Eurídice. Nós todos somos destinados a vós, e mais cedo ou mais tarde passaremos ao vosso domínio. Também ela, quando tiver cumprido o termo de sua vida, será devidamente vossa. Até então, porém, deixem-na comigo, eu vos imploro. Se recusardes, não poderei voltar sozinho; triunfareis com a morte de nós dois”.
Enquanto ele cantava sua súplica, os próprios fantasmas derramavam lágrimas enternecidas. Tântalo, apesar da sede, parou por um momento os seus esforços para conseguir água; a roda de Ixion ficou imóvel: o abutre cessou de despedaçar o fígado do gigante; as filhas de Danaus descansaram do trabalho de carregar água em uma peneira; e Sísifo sentou-se em seu rochedo para escutar. Então, pela primeira vez, segundo se diz, as faces das Fúrias umedeceram-se de lágrimas. Prosérpina não pôde resistir, e o próprio Plutão cedeu. Eurídice foi chamada e saiu do meio dos fantasmas recém-chegados, coxeando devido à ferida no pé. Orfeu teve permissão de levá-la consigo, com uma condição: a de que não se voltaria para olhá-la enquanto não tivessem chegado à atmosfera superior.
E assim saíram os dois num silêncio absoluto, caminhando através de passagens escuras e íngremes, Orfeu na frente e Eurídice atrás, e já estavam quase atingindo o mundo superior quando ele olhou por sob os ombros para certificar-se de que a esposa o seguia, e imediatamente a viu ser arrebatada num turbilhão irresistível. Desesperados, marido e mulher ainda estenderam os braços buscando um abraço derradeiro, mas somente apertaram o ar. Ele tentou seguí-la, acreditando que poderia libertá-la novamente, mas o rude barqueiro o repeliu e recusou dar-lhe passagem. Orfeu deixou-se ficar à margem do lago durante sete dias, sem comer ou dormir, mas depois abandonou aquele lugar cantando os seus lamentos.
Dali em diante ele se manteve alheio a outras mulheres, entregue à lembrança do seu infortúnio. As donzelas trácias fizeram tudo para seduzi-lo, mas como ele as repelia, elas o perseguiram enquanto puderam, até que certo dia, cansadas de vê-lo insensível aos seus encantos, uma delas, excitada pelos ritos de Baco, exclamou: - “Ali está aquele que nos despreza!”, e lançou-lhe seu dardo. A arma, mal chegou ao alcance do som da lira de Orfeu, caiu inofensiva a seus pés, o mesmo acontecendo com as pedras que lhes foram atiradas. Com isso as mulheres ficaram ainda mais irritadas, aumentaram a intensidade da gritaria para abafar o som da música, e assim Orfeu finalmente foi atingido (ilustração acima). Furiosas, as mulheres despedaçaram o corpo do músico e atiraram sua lira e sua cabeça nas águas do rio Evros, mas ambas flutuaram correnteza abaixo ainda tocando e cantando uma música triste, respondida com plangente sinfonia pelas margens do curso d’água. Diz a lenda que elas pararam em Lesbos, onde existiu provavelmente um santuário órfico.
As Musas ajuntaram os fragmentos do corpo de Orfeu e os enterraram em Limerra, onde, segundo se diz, o rouxinol canta sobre seu túmulo mais suavemente que em qualquer outra parte da Grécia. A lira foi colocada por Júpiter entre as estrelas, enquanto o poeta, ao entrar pela segundo vez no Tártaro, procurou Eurídice e a tomou nos braços. Os dois passearam pelos campos venturosos, juntos agora, indo na frente ora ele, ora ela, com Orfeu admirando sua amada tanto quanto desejava, sem ser castigado por um olhar descuidado.
A história de Orfeu, transmitida por diversos poetas clássicos, foi popular mesmo na Idade Média, sendo narrada em várias lendas medievais na forma de conto de fadas nórdico. Não se sabe ao certo que figura humana ou divina está simbolizada nessa passagem. Alguns mitólogos o representam como um filósofo em busca de novos conhecimentos; outros, como um músico tão maravilhoso que personifica a música e o ritmo; além dos que o consideram um vidente fundador de ritos místicos, sobretudo dionisíacos; ou então astrólogo, e finalmente como um missionário da civilização em terras bárbaras, sendo-lhe atribuída a autoria de alguns livros.
Fonte: O Livro de Ouro da Mitologia
Himeneu, o deus dos casamentos, foi convocado para abençoar com sua presença a união de Orfeu e Eurídice, mas embora tivesse comparecido, não levou augúrios favoráveis. Sua própria tocha fumegou durante a cerimônia, fazendo lacrimejar os olhos dos noivos. Confirmando tais prognósticos, Eurídice, pouco depois do casamento, passeava com as ninfas suas companheiras quando foi vista pelo pastor Aristeu, que fascinado por sua beleza, tentou conquistá-la. Ela fugiu, e na fuga, ao pisar em uma cobra, foi mordida no pé e morreu. Durante dias Orfeu, inconformado, clamou o seu pesar para deuses e homens, mas como nada conseguiu, resolveu procurar a esposa na região dos mortos. Desceu ao reino das sombras, passou por multidões de fantasmas e apresentou-se diante de Plutão e Prosérpina, onde cantou acompanhado pela lira:
“Ó, divindades do mundo inferior, para o qual todos nós que vivemos teremos que vir um dia, escutai as minhas palavras, pois elas são verdadeiras. Não venho para espionar os segredos do Tártaro, nem para tentar experimentar minha força contra o cão de três cabeças que guarda a entrada. Venho à procura de minha esposa, a cuja mocidade o dente de uma venenosa víbora pôs um fim prematuro.O Amor aqui me trouxe, o Amor, um deus-todo-poderoso que mora entre nós, na Terra, e também aqui, se as velhas tradições dizem a verdade. Imploro-vos: uni de novo os fios da vida de Eurídice. Nós todos somos destinados a vós, e mais cedo ou mais tarde passaremos ao vosso domínio. Também ela, quando tiver cumprido o termo de sua vida, será devidamente vossa. Até então, porém, deixem-na comigo, eu vos imploro. Se recusardes, não poderei voltar sozinho; triunfareis com a morte de nós dois”.
Enquanto ele cantava sua súplica, os próprios fantasmas derramavam lágrimas enternecidas. Tântalo, apesar da sede, parou por um momento os seus esforços para conseguir água; a roda de Ixion ficou imóvel: o abutre cessou de despedaçar o fígado do gigante; as filhas de Danaus descansaram do trabalho de carregar água em uma peneira; e Sísifo sentou-se em seu rochedo para escutar. Então, pela primeira vez, segundo se diz, as faces das Fúrias umedeceram-se de lágrimas. Prosérpina não pôde resistir, e o próprio Plutão cedeu. Eurídice foi chamada e saiu do meio dos fantasmas recém-chegados, coxeando devido à ferida no pé. Orfeu teve permissão de levá-la consigo, com uma condição: a de que não se voltaria para olhá-la enquanto não tivessem chegado à atmosfera superior.
E assim saíram os dois num silêncio absoluto, caminhando através de passagens escuras e íngremes, Orfeu na frente e Eurídice atrás, e já estavam quase atingindo o mundo superior quando ele olhou por sob os ombros para certificar-se de que a esposa o seguia, e imediatamente a viu ser arrebatada num turbilhão irresistível. Desesperados, marido e mulher ainda estenderam os braços buscando um abraço derradeiro, mas somente apertaram o ar. Ele tentou seguí-la, acreditando que poderia libertá-la novamente, mas o rude barqueiro o repeliu e recusou dar-lhe passagem. Orfeu deixou-se ficar à margem do lago durante sete dias, sem comer ou dormir, mas depois abandonou aquele lugar cantando os seus lamentos.
Dali em diante ele se manteve alheio a outras mulheres, entregue à lembrança do seu infortúnio. As donzelas trácias fizeram tudo para seduzi-lo, mas como ele as repelia, elas o perseguiram enquanto puderam, até que certo dia, cansadas de vê-lo insensível aos seus encantos, uma delas, excitada pelos ritos de Baco, exclamou: - “Ali está aquele que nos despreza!”, e lançou-lhe seu dardo. A arma, mal chegou ao alcance do som da lira de Orfeu, caiu inofensiva a seus pés, o mesmo acontecendo com as pedras que lhes foram atiradas. Com isso as mulheres ficaram ainda mais irritadas, aumentaram a intensidade da gritaria para abafar o som da música, e assim Orfeu finalmente foi atingido (ilustração acima). Furiosas, as mulheres despedaçaram o corpo do músico e atiraram sua lira e sua cabeça nas águas do rio Evros, mas ambas flutuaram correnteza abaixo ainda tocando e cantando uma música triste, respondida com plangente sinfonia pelas margens do curso d’água. Diz a lenda que elas pararam em Lesbos, onde existiu provavelmente um santuário órfico.
As Musas ajuntaram os fragmentos do corpo de Orfeu e os enterraram em Limerra, onde, segundo se diz, o rouxinol canta sobre seu túmulo mais suavemente que em qualquer outra parte da Grécia. A lira foi colocada por Júpiter entre as estrelas, enquanto o poeta, ao entrar pela segundo vez no Tártaro, procurou Eurídice e a tomou nos braços. Os dois passearam pelos campos venturosos, juntos agora, indo na frente ora ele, ora ela, com Orfeu admirando sua amada tanto quanto desejava, sem ser castigado por um olhar descuidado.
A história de Orfeu, transmitida por diversos poetas clássicos, foi popular mesmo na Idade Média, sendo narrada em várias lendas medievais na forma de conto de fadas nórdico. Não se sabe ao certo que figura humana ou divina está simbolizada nessa passagem. Alguns mitólogos o representam como um filósofo em busca de novos conhecimentos; outros, como um músico tão maravilhoso que personifica a música e o ritmo; além dos que o consideram um vidente fundador de ritos místicos, sobretudo dionisíacos; ou então astrólogo, e finalmente como um missionário da civilização em terras bárbaras, sendo-lhe atribuída a autoria de alguns livros.
Fonte: O Livro de Ouro da Mitologia
A "propósito" de Orfeu da Conceição
Vinícius de Moraes, 19/09/1956
prefácio do poeta para o livro 'Orfeu da Conceição tragédia carioca'
livraria São José, Rio de Janeiro, 1960
As datas de saída dêste livro e da estréia , no Teatro Municipal desta cidade, de "Orfeu da Conceição" são propositadamente coincidentes. É uma espécie de festa que me deu, pois não me foi fácil escrever a peça, e muito menos encená-la. Há 16 anos, uma certa noite em casa do arquiteto Carlos Leão, a cavaleiro do Saco de São Francisco, depois de ler numa velha mitologia o mito grego de orfeu, dava eu início aos versos do primeiro ato, que terminei com a madrugada raiando sôbre quase tôda a Guanabara, visível de minha janela. Só em Los Angeles, 6 anos depois, consegui encontrar o segundo e terceiro atos, sendo que êste último perdi-o, só indo refazê-lo em 1953 quando, a instâncias de meu amigo o poeta João Cabral de Mello Neto, resolvi concorrer ao Concurso de Teatro do IV Centenário de São Paulo.
É difícil prever o destino de uma peça de teatro, sobretudo quando foi, como esta, ensaiada em três meses apenas, por contingências dos meus deveres de diplomata com data certa para regressar ao pôsto.
Três meses realmente heróicos, em que uma equipe de seis (o diretor Leo Jusi, o cenógrafo Oscar Niemeyer, o compositor Antônio Carlos Jobim, a figurinista Lila de Moraes, a coreógrafa Lina de Luca e o pintor Carlos Scliar) criou condições para um elenco de 45 figuras, com 10 atores principais, pisar em cena, depois de um exaustivo trabalho em que há que salientar primeiro a coragem e lealdade dos atores e logo em seguida e logo em seguida a capacidade de trabalho e devotamento do diretor Leo Jusi. Mas a verdade é que deram todos, cada qual no seu setor, o máximo. São amigos meus me merecem tudo - e eu lhes sou devotadamente grato.
Dentro de uma semana, às 9 da noite, no Teatro Municipal, cessarão tôdas as nossas agonias. Depois da "ouverture" para grande orquestra, escrita por Antônio Carlos Jobim especialmente para a peça, o pano se abrirá sôbre cenário de Oscar Niemeyer: dois amigos muito queridos; duas obras que vivem a partir daqui perfeitamente integradas com a minha peça. Luiz Bonfá estará executando, da orquestra, o violão de Orfeu da Conceição, interpretado por Haroldo Costa: outros dois amigos a quem aprendi a querer muito. Os atores portarão os figurinos feitos por uma estreante em teatro como eu, como Oscar Niemeyer, como Antônio Carlos Jobim: minha mulher Lila Moraes. E as gentis dançarinas dançarão os bailes que lhe foram marcados por uma outra estreante como coreógrafa de teatro: minha amiga Lina de Luca. E em tudo haverá uma côr, um desenho, um toque de Carlos Scliar: um cuja amizade vem de longe.
Escravo de meus amigos, de quem tudo recebo e a quem tudo dou, agora pergunto eu: que maior alegria?
E uma última palavra : esta peça é uma homenagem ao negro brasileiro, a quem, de resto, a devo; e não apenas pela sua contribuição tão orgânica à cultura dêste país, - melhor, pelo seu apaixonante estilo de viver que me permitiu, sem esfôrço, num simples relampejar do pensamento, sentir no divino músico da Trácia a natureza de um dos divinos músicos do morro carioca.
Rio, 19-9-1956. __ V. de M.
Assinar:
Postagens (Atom)